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DELAS: 

Mulheres nas torcidas organizadas de São Paulo

ECOS NAS TORCIDAS

Pioneiras nas arquibancadas: 

Da origem do “torcer” ao comando das torcidas: a luta feminina por voz e autoridade

O futebol sempre foi um palco de intensa paixão e pertencimento. Nesse cenário, as torcidas organizadas se consolidaram como espaços vitais de expressão cultural. Contudo, apesar da presença histórica das mulheres nas arquibancadas, seu protagonismo e liderança foram, por muito tempo, deixados de lado em um ambiente predominantemente masculino.

 

A palavra "torcida" tem raízes intrinsecamente ligadas à atuação das mulheres no futebol brasileiro.

 

Crônicas esportivas da época narravam a presença e o fervor das torcedoras, que, trajadas com chapéus e luvas, acompanhavam os jogos, demonstrando que o ato de "torcer" surgiu com e por causa delas.

ORIGEM DE "TORCER"

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Essa narrativa começou a ser reescrita por uma geração de mulheres pioneiras que ousaram quebrar o paradigma, como Dulce Rosalina, a vascaína que se tornou a primeira mulher a presidir uma torcida organizada no Brasil.

 

Em 1956, aos 22 anos, Dulce assumiu o comando da Torcida Organizada do Vasco (TOV), em um ato que desafiou o preconceito em uma época em que o futebol feminino era, inclusive, proibido.

HISTÓRIA DAS TORCIDAS ORGANIZADAS 

Linha do tempo

1972

O surgimento da principal torcida organizada do São Paulo FC, ao lado da TUSP, demonstra o fortalecimento e a expansão do movimento, que já comportava mais de uma grande facção por clube

1983

Dissolução da ATOESP e surgimento da Mancha Verde acontece quando a torcida é extinta pelo aumento das rivalidades e violência, dando lugar à Mancha Verde, que rapidamente se torna símbolo dessa tensão no futebol

1995

Incidente do Pacaembu gera repercussão nacional após briga generalizada, levando autoridades a responsabilizar as organizadas e impor proibições severas, como impedir presença nos estádios e uso de faixas e uniformes dos grupos

2019

Intensificação das punições legais, quando uma nova lei amplia o banimento de torcidas violentas para até cinco anos e passa a incluir atos fora dos estádios e invasões de centros de treinamento

Lei 13.912: amplia de três para cinco anos o banimento de torcidas organizadas que descumprirem o Estatuto do Torcedor

1969

Nasce a Torcida Jovem do Santos e os Gaviões da Fiel, fortalecendo o papel social e político das organizadas

1940

Fundação da TUSP e o início formal das torcidas organizadas no Brasil

*TUSP (Torcida Uniformizada do São Paulo)
 

1956

Dulce Rosalina lidera a TOV aos 22 anos e introduz papel picado e concursos de bateria

*TOV (Torcida Organizada do Vasco)
 

1970

Fundação da TUP em um modelo de organizadas se consolida nos grandes clubes paulistas

*TUP (Torcida Uniformizada do Palmeiras)
 

1976

Criação da ATOESP em uma articulação política e união entre as torcidas rivais, com objetivo de negociar pautas comuns (preços de ingressos e representatividade)

*ATOESP (Associação das Torcidas Organizadas do Estado de São Paulo)
 

1988

Assassinato do presidente da Mancha Verde marca o ápice da violência dos anos 80 com a morte de Cleofas Sóstenes Dantas, reforçando como a conduta violenta já era central no movimento segundo estudos acadêmicos.

2016

Adoção da torcida única em clássicos paulistas surge como resposta do poder público à violência, mudando de forma permanente a experiência dos jogos e o modelo de rivalidade nos estádios

2025

Até hoje acontecem conflitos entre torcidas organizadas na cidade de São Paulo, porém o número de mortes causadas por esses confrontos diminuiu consideravelmente. Nos últimos 37 anos, foram 405 mortes, na capital paulista

Atualmente, nenhuma mulher é líder de torcidas organizadas oficiais na cidade de São Paulo

DESAFIOS INICIAIS DA LIDERANÇA FEMINIDA NAS TORCIDAS

A autora do livro "Lugar de Mulher é no Futebol", Daniela Araújo, explica que a ascensão de Dulce Rosalina à presidência da Torcida Organizada do Vasco não foi simples.

 

Embora tenha sido indicada ao cargo por João de Luca, Dulce dependia, nos primeiros anos, da validação de uma voz masculina para decisões de gestão.

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"Ser líder daquela torcida representava muito, você representava o total dos torcedores [...] e não é o gênero que vai impedir ela de fazer ou de não fazer. Se ela quiser apanhar ou bater, ela vai fazer, se ela quiser lutar, ela vai lutar, se ela quiser brigar."

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Os desafios não se restringiam à administração da torcida. A representação de Dulce na imprensa reforçava essa disputa entre autoridade e enquadramento social.

 

Seu nome completo, utilizado nas primeiras coberturas, foi gradualmente substituído por “Tia Dulce”, apelido que direcionava sua imagem para funções associadas ao cuidado, como acolher torcedores e oferecer comida nos estádios. A adoção do termo deslocava a percepção pública do cargo de presidente para um papel considerado socialmente aceitável para mulheres.

Mesmo com essas barreiras sendo contestadas por lideranças pioneiras, o cenário contemporâneo ainda reflete desigualdades. Apesar de as mulheres serem maioria no Brasil, segundo o Censo 2022 do IBGE, sua presença no futebol ainda é menor.

 

Um levantamento O Globo/Ipsos-Ipec de 2025, mostram que, entre os sócios-torcedores dos principais clubes paulistas, o desequilíbrio é evidente: 10% no Corinthians, 5,6% no São Paulo, 5% no Palmeiras e 1% no Santos.

 

Já nos índices de identificação com os times, a participação feminina cresce, mas a distância em relação ao protagonismo masculino ainda aparece nos números:
 

45%

São Paulo 

43%

Corinthians 

40%

Palmeiras

*O Santos não aparece no levantamento por falta de dados consolidados

Essa história de resistência demonstra que as mulheres não apenas participaram da fundação cultural do "torcer" no Brasil, mas também foram as primeiras a conquistar, com pulso firme, posições de liderança em um dos espaços mais contestados do esporte nacional. Seu legado é a base para o crescente protagonismo feminino nas torcidas organizadas do presente.

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